O Jardim das Palavras

o seu pequeno, mas querido jardim..


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Prólogo

“Uma terra distante, onde eu possa encontrar um pouco de inspiração, encontrar o que tiraram de mim e o que sinto mais saudades..”

Céus profundos, mergulhados no granulado das estrelas e galáxias, decorado em tons azuis e rosados, pores do sol alaranjados que pintam com grande cromacidade todos os cantos, flores, grama, desfiladeiros ao mar de silêncio absoluto.

Tempestades negras, vento frio, relampagos, sombras, demonios e lamaçal.

Certos ambientes podem variar muito, principalmente os que estão dentro de você.

Hoje irei contar a história de um lugar distante, talvez próximo, mas que ninguém nunca foi.. Ao menos ninguém deste planeta..

Habitado por um jardim, uma árvore, uma montanha.. Habitado por um samurai.. Habitado por uma maga misteriosa..

Quem poderá prever tudo que acontece, quando se desce para levar o amor? Homem nenhum ousaria..

Aqui estamos diante de um mar, tranquilo, que a nada inspira. Uma praia sem sol, mas também sem sombras, areia branca, fincando-se em um oceano verde escuro. Molhe teus pés para entrar, o Mar do Espelho lhe dirá o que trazes em teu coração e em tua mente, ele ilustrará as formas mais vivas dentro de ti, podendo levar-te à redemoinhos turvos e turbulentos ou a um enorme banco de areia, entre lençois azuis de água cristalina. Este é o primeiro degrau para se atingir a Ilha. Sobre ele, não se pode voar, nem mergulhar, o destino quis assim, foi desta forma que Deus a montou, cercada por estas águas traiçoeiras, porém brandas e pacíficas, belas e mornas, de acordo com o que armazenas em teu ser.

Eu não sei se posso dizer agora o que se localiza em seu interior, mas não me surpreenderia se você já ouvisse o som de lutas e lâminas rebatendo-se. Um ambiente como este parece, aos homens, ser sem graça e monótono, mas atrai a atenção daquilo que o homem não vê, tanto para o bem, quanto para o mal.

Em certo tempo, foi preciso defende-la, era necessário manter a ilha longe das influências arrasadoras, que constantemente alteravam o clima, plantavam sementes variadas e diversas, descolorindo e trazendo desarmonia a este recanto prodigioso. As forças misteriosas da ilha, trouxeram de suas profundezas a entidade de um samurai, cujo nome é desconhecido e que de bom coração e eternamente leal, vela por protege-la contra qualquer ameaça. Seus recursos são limitados, poucas são as ferramentas que dispõe para enfrentar o que é trazido pelo universo e trazido também pelas cavernas profundas e escuras, desconhecidas, que existem  ao seu redor.

Esta ilha é campo pisado por anjos e dragões, borboletas e demônios, onde não se derrama sangue, mas esbarra-se nas dores mais pungentes e reconforta-se nos abrigos mais acalentadores. Decidir viver aqui é um desafio, superado somente por quem tem fé, amor, esperança, mas acima de tudo vontade de viver e sobreviver.


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Passos Dourados

Eu, que sou um pobre homem
Atravessando os dias desta terra
Onde ora tudo é certo
Ora o certo é errado
Não sigo sem rumo

Meu Deus, o teu gosto descobri
Tua voz, identifiquei

E as ondas da vida, não mais me atordoarão
Os sopros de desespero, não mais me congelarão
Não

Agora eu sinto a luz e a vejo
Talvez distante, mas dentro da estrada

Conheço o caminho
E suas placas, já vistas há milhões de milhas de distância

Nesta jornada do eu
Nesta jornada pra Deus

Eu vou e me encontro
Dando passos para Luz..


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O requiem de um demônio

“És um anjo que desejas ser? Pois bem, vejamos como se sai com um demonio ao teu lado!!!”

– Após muitos anos de cegueira, aí estás, eis que te encontro..

Erguida dramaticamente, uma massa negra envolta em cores violáceas com bordas esbranquiçadas, permanece estática em seu trabalho, sem de nada desconfiar.

O anjo aponta-lhe, à distância, seu arco dourado que há muito não erguia. Aproxima a flecha de seus olhos, para não perder a mira.

Com um disparo de luz, a massa roxa é desprendida bruscamente do canto em que se encontrava, nutrindo-se.

O anjo em um salto, agarra-lhe pelo pescoço e espreme-o. Visando marcar tal momento para sempre, pressiona com mais força, fazendo fluir um liquido de sua boca, a escorrer pelos seus pulsos. Atira-o novamente ao chão.

O demônio, muito sagaz, em poucos segundos dá se conta da situação e, em seu artificio milenar busca confundi-lo:

– Sabes que esta não é a maneira de combater teus inimigos… Não é o jeito de deixar de ser mau.

– Sim o sei, e neste momento, não o desejo. Mas não sou mau, não sou como você, exatamente agora, a única coisa que me diferencia é a intenção. Venho para libertar-me.

Suspenso pelo pescoço, é atirado para longe. O anjo não pretende elimina-lo de uma vez, agora que pode enxerga-lo e toca-lo, deseja sacudir suas reações, suprimir seus movimentos, abafar suas atitudes, deseja balança-lo um pouco mais.

– Não mais tomará posse de meus serviços, não mais escravizará minhas faculdades. – Enquanto o dizia, o anjo com sua força mental, forçava os braços do demonio contra a mesa, onde jaziam muitos papéis de cálculos, teorias e trabalhos desenvolvidos às custas da escravização de seu serviço de inteligencia, quebrando-os na altura central dos antebraços.

Das costas, do rosto, dos ombros surgem lâminas finíssimas oriundas de sua fúria, que abrem-se como garras retráteis e o anjo pula contra o demônio, abraçando-o, de encontro às sutis cortantes. Olha-o nos olhos e diz:

– Não é minha hora.. Seu show está terminado.. Eu voltarei a vida que me pertence!

As lâminas curvas que não encontraram o demônio agora contorcem-se e envolvem-no, como cordas firmes a enrolarem-se em sua vítima, pressionando-o com força brutal.

Estraçalhado, o demônio que não era nem alma, nem ser, nem força, nem consciência, mas o fruto das iniquidades humanas, cai ao chão, manchando-o.

O anjo ergue-se e diz-lhe, tornando de volta ao seu caminho:

– Sei que isto não o matará, mas quero que lhe usem neste estado.